Quadro - Transições que inspiram, por Alana Vieira
Entre linhas, tecidos e muita determinação, ela transformou a produção artesanal de bolsas e acessórios femininos no seu novo caminho profissional.
Quadro - Transições que inspiram, por Alana Vieira

Por muitos anos, antes de se tornar empreendedora, Lanusse Nunes — conhecida carinhosamente como Preta — já carregava nas mãos o talento que hoje move o seu negócio. Costureira desde os 12 anos, aprendeu ao lado da mãe o ofício que seria, um dia, a base da sua liberdade. Trabalhou no regime CLT, mas antes mesmo de assinar a carteira, a costura já fazia parte de sua identidade.
A virada de chave veio quando ela ouviu finalmente o próprio incômodo. "Me sentia desconfortável fazendo algo que não gostava", lembra. Ao perceber que a costura era não apenas uma habilidade, mas um lugar de amor e pertencimento, Preta decidiu arriscar. Não houve plano detalhado, reserva financeira ou mentoria estruturada. "Só fui", diz. E foi justamente no meio desse caminho que ela descobriu sua maior fonte de força: o próprio apoio.
Mas a transição não aconteceu sem medos. Curiosamente, não foi a instabilidade que assustou — foi a timidez. "É um ponto fraco que me incomoda", assume. Ainda assim, ela seguiu, costurando coragem entre uma peça e outra.
A escolha pelo universo das bolsas e acessórios femininos nasceu de uma história antiga. Durante anos, ela e a mãe costuraram para terceiros, sem o devido reconhecimento. "Decidi largar tudo e fazer do meu jeito, do jeito que amo. " Assim nasceu o Ateliê Preta: artesanal, autoral e profundamente conectado com a força das mulheres.
O início foi marcado pelo receio de não receber credibilidade. Mas a vida surpreendeu. "Vale a pena correr atrás do que queremos, mesmo com medo", conta. Hoje, ao comparar o CLT com a rotina de gerir o próprio ateliê, Preta é direta: "É outro nível. Não é fácil, mas é gratificante saber que agora corro atrás do meu sonho, não do de outras pessoas. "
As peças que cria carregam mais que beleza: trazem mensagem. "Quero que as mulheres enxerguem como somos poderosas ao sermos diferentes da manada", afirma. Na rotina, continua em processo de organização — uma realidade comum a muitas empreendedoras — mas segue com clareza sobre onde quer chegar.
E sim, ela pensa em desistir. "Quase todos os dias", confessa. Mas é a fé que a mantém firme. "Deus me cutuca sempre, dizendo que criou uma guerreira. " O retorno das clientes, carinhoso e positivo, reforça esse chamado e a lembra do propósito.
Para outras mulheres que sonham em deixar a CLT, a mensagem é simples e visceral:
"Só vai. O processo é doloroso, mas chega a hora em que Deus dá clareza para os próximos passos. "
Sobre o futuro, Preta fala com brilho nos olhos. Após um profundo processo espiritual e de autoconhecimento, sonha alto — mais alto do que já ousou imaginar. Planeja tirar muitos projetos do papel e levar o Ateliê Preta a um patamar que hoje ainda parece distante, mas absolutamente possível.
Lanusse Nunes segue costurando histórias, coragem e sonhos. E inspira — não porque nunca teve medo, mas porque escolheu seguir apesar deles.
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Por Alana Vieira — Colunista da Revista Negra | Série: Transições que Inspiram



