Por Alana Vieira -quadro "Mulheres que inspiram"
Despertando memórias olfativas: a trajetória de uma empreendedora que descobriu o acolhimento através dos aromas da natureza.
Por Alana Vieira -quadro "Mulheres que inspiram"
Desde muito jovem Myla Eller trabalha com vendas de forma autônoma; cosméticos, semijóias, roupas, calçados, enxovais, vestuário feminino, de tudo a empreendedora já vendeu um pouco para poder complementar a renda familiar.

Quando surgiu a oportunidade de trabalhar em regime CLT, Myla não perdeu a chance de conseguir um salário fixo e conciliou por 5 (cinco) anos as duas atividades. Porém, a rotina no regime CLT era exaustiva e fala com convicção:
" Não me trazia satisfação e realização. "
A empreendedora se sentia sobrecarregada, quando trabalhava pelo tão sonhado "salário certinho" no 5º dia útil do mês. Conciliar a jornada de trabalho na empresa, suas vendas autônomas e a faculdade, que ficava há 200k de distância, a afastava cada vez mais da sua família, dos seus filhos, da sua saúde e da sua paz.
Com diagnósticos de ansiedade generalizada e depressão, Myla necessitou decidir: ter sua renda fixa ou iniciar seu tratamento de saúde, que, por vez, a afastaria do regime CLT. E como toda empreendedora nata, iniciou seu tratamento de saúde, mas continuou com suas atividades empreendedora. Afirma, Myla:
"Nunca deixei de empreender e continuar trabalhando de forma autônoma, pois sempre foi minha paixão. "
Natural de Cacoal, ela atua como saboista na cidade de Ji-Paraná há 2 (dois) anos, criando memórias olfativas e conexão profunda com os aromas da natureza.
Como foi o processo de planejamento dessa transição? Você se preparou financeiramente? Fez cursos? O que veio primeiro: a ideia da marca ou o desejo de sair do regime anterior?
Pesquisei muito sobre a Saboaria porque era tudo muito novo e encantador. Comecei fazendo o curso básico online e presencial, mas aprendi muito, na prática, errando também. O Ramo da saboaria e cosméticos artesanais e naturais se divide em muitos leques de possibilidades e eu escolhi a saboaria artesanal como ramo principal. O nome da marca veio juntamente com o desejo e a ideia de fazer algo pelas minhas mãos que pudesse levar até as pessoas. Eu no meu recanto no meu aconchego levar para as pessoas um pouco de conforto, carinho e cuidado através das produções de minha autoria é algo que preenche o coração de alegria e satisfação. Então eu no meu Recanto do Ipê (nome que colocamos no meu sítio, onde moro, porque tínhamos uma árvore de ipê-amarelo no quintal), levando aromas, cuidado, conforto, carinho, calmaria através dos nossos produtos artesanais para outras pessoas. Recanto dos Aromas.
Qual foi a reação das pessoas mais próximas (família, amigos, ex-colegas) quando você anunciou essa mudança radical de carreira? Você sentiu falta de apoio ou, ao contrário, teve muito incentivo?
No início tudo é muito incerto, mas precisamos entender que o NÃO já temos e precisamos lutar pelo sim. Meu esposo, alguns familiares e amigos me apoiaram muito. Precisamos estar preparadas, porque a decepção vem de um jeito ou de outro, mas isso só nos traz mais experiências e a certeza de expandir o seu negócio para quem não conhece. Acreditar em si, fazer o seu melhor faz as pessoas acreditarem e confiarem em você. E foi empreendendo que muitos clientes, viraram grandes amigos, assim como amigos e familiares se afastaram.
Qual foi o maior medo ou a maior dificuldade que você enfrentou nos primeiros seis meses como empreendedora, após deixar a segurança da CLT?
No início de empreender com a saboaria, a dificuldade foi de trazer algo novo que, muitas pessoas não conheciam e conscientizar as pessoas sobre um produto artesanal produzido com ingrediente natural para de fato limpar e cuidar da pele, em comparação a um produto industrial produzido em larga escala com visão na lucratividade. Além desse desafio da conscientização temos também a dificuldade de encontrar matéria-prima na região e por isso precisamos pedir quase todo material de fora do estado.
Por que a escolha específica pelo ramo de cosméticos artesanais? O que a atrai nesse mercado?
Sempre admirei muito todo trabalho artesanal, mas a escolha desse nicho foi enxergar o valor além da beleza e a energia que tem em cada peça ou produto artesanal. Por outro lado, também temos a sustentabilidade, visto que utilizamos ingredientes que não vão agredir nem a pele e muito menos o meio ambiente e dentro do sistema econômico o artesanato gera renda familiar sem precisar utilizar de recursos humanos para gerar resultados.
O que diferencia seus produtos dos cosméticos industrializados? Quais são os princípios ou a filosofia por trás da sua marca?
Nossos produtos são produzidos em pequena escala de forma artesanal e única utilizando ingrediente natural que não vão agredir a pele e nem o meio ambiente. Nossos sabonetes, por exemplo, além de limpar a pele sem destruí a barreira natural ainda contém ativos que podem auxiliar em cuidados e tratamento que cada pessoa necessita e assim também conseguimos produzir um sabonete individualizado para cada tipo de pele.
Descreva brevemente como é o processo de criação e produção de um cosmético: desde a ideia até o produto finalizado e embalado.
São várias etapas para um produto, mesmo que artesanal chegue ao cliente. Temos nossos produtos de catálogo e também atendemos pedidos personalizados. De toda forma existe a etapa de adquirir a matéria-prima, conferir e separar. Organizar quais as formulações serão produzidas no momento, separar todos os ingredientes pesados e utensílios esterilizados para começar a produção. Após essa etapa vamos para a embalagem e rotulação, tudo feito de forma artesanal por mim. E assim estará pontinho para levar energia boa e cuidada para o cliente, e essa parte é meu esposo que entra em ação, fazemos nossas entregas e envios para outras regiões do estado.
Como você lida com a parte burocrática, a regulamentação e a venda? Quais são os canais de venda mais eficazes para o seu tipo de produto hoje?
Existe uma lei recente que isenta registro prévio pela ANVISA desde que a produção de cosméticos se encaixe na categoria artesanal e para isso existe algumas exigências. Porém, continua em tramitação algumas regulamentações e para isso tem uma consulta pública em aberto. Os canais de vendas principais no momento são Instagram e WhatsApp para atender nossas produções.
Qual conselho você daria para aquela pessoa que está hoje na CLT, insatisfeita, e sonha em empreender na área de cosméticos ou em qualquer outro ramo artesanal?
Para quem sonha em empreender no ramo de cosméticos e saboaria artesanal precisa procurar conhecer sobre a área buscando fazer ao menos um curso básico. Não ter medo de encarar o que é novo, ser obstinada e dedicada. Com a Saboaria artesanal consigo controlar minha ansiedade e depressão, cuidar das pessoas, colocando sentimento e construindo valor com as próprias mãos. Isso para mim não tem preço e sim valor. Trabalhar com saboaria artesanal cura dores, mas também é autocura.
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